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Uma visão básica do assunto. 1 – Nitrox Antes de mais nada, para entendermos do que se trata o mergulho técnico, é necessário entendermos um pouco sobre Nitrox. Nitrox, por definição do termo, denomina qualquer mistura composta por Oxigênio e Nitrogênio, em qualquer proporção, sendo assim, o ar que respiramos também pode ser denominado Nitrox, pois temos, para efeito de ilustração, uma mistura de 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio. No mergulho recreacional, utilizamos as misturas EAN (Enriched Air Nitrox) que nada mais é que o ar que respiramos normalmente com adição de oxigênio, por isso a denominação EAN, de ar “enriquecido”, no caso, com oxigênio, a fim de aumentar o tempo de fundo (LND - limite não descompressivo) e, no caso específico do mergulho técnico, reduzir os tempos de descompressão. Mergulhadores recreacionais tem acesso a misturas Nitrox com no máximo 40% de oxigênio, sendo que as misturas com 32% e 36% são as mais comuns. O curso de Nitrox é muito interessante e vale a pena mesmo para quem não tem intenção de seguir pelo caminho do mergulho técnico. Converse com seu instrutor a respeito. 2 – Equipamentos É muito fácil distinguir um mergulhador recreacional de um mergulhador técnico simplesmente observando seus equipamentos, a diferença é gritante. Enquanto no mergulho recreacional utiliza-se um único cilindro, geralmente o conhecido S80 e às vezes a chamada “mamadeira” de 15 litros, no mergulho técnico utilizamos logo de cara um conjunto de 2 cilindros de 15 litros nas costas (a chamada “dupla”) e ainda carregamos outros cilindros auxiliares pendurados, normalmente S80, as chamadas “stages” de descompressão, com misturas EAN diferentes entre si. Além disso, no mergulho técnico não se utiliza os conhecidos coletes, sendo que estes são substituídos pelo chamado “backplate” que é isso mesmo, uma placa de metal que fica nas costas do mergulhador, presa por largos arreios. Nesta placa é que vai parafusada a “dupla”, isso mesmo, parafusada, nada de cinta, e, entre a “dupla” e o “backplate” vai a chamada “asa”, que é o dispositivo inflável que vai dar a flutuabilidade necessária ao mergulhador, acionada por uma traquéia, como as dos coletes. A quantidade de reguladores também é grande. Na “dupla” vão 2 primeiros estágios com mangueiras sob medida para cada mergulhador. A ordem aqui é “redundância” e “contingência”, tudo em nome da segurança no mergulho. 3 – Planejamento Não existe mergulho técnico sem planejamento. Mesmo antes de chegar ao ponto de mergulho você já deve ter em mente exatamente tudo o que vai fazer no mergulho. E não é um planejamento qualquer não, estamos falando em pelo menos 3 opções por mergulho, um planejamento “alvo” que é o objetivo do mergulho, um planejamento de “aborto” para o caso de algum imprevisto que faça com que o mergulho tenha uma duração menor que a planejada inicialmente e um planejamento de “contingência”, desta vez para o caso de que o tempo de mergulho ultrapasse o planejamento inicial. Tudo isso vai anotado, em pranchetas que são colocadas em um local de fácil acesso (geralmente presas ao antebraço). Ali temos todas as informações necessárias e vitais para um mergulho técnico bem sucedido, com todas as profundidades, tempos e qual mistura utilizar em determinada profundidade. 4 – Misturas Já falamos sobre o Nitrox, mas ele é apenas uma das misturas que são utilizadas no mergulho técnico. Ao contrário do mergulho recreacional, onde a proporção limite de oxigênio em uma mistura é de 40%, no mergulho técnico pode-se utilizar oxigênio a 100%, no entanto, esse oxigênio só pode ser utilizado em profundidades menores (mais rasas) que 6 metros, apenas para acelerar a descompressão do mergulho. IMPORTANTE – A utilização de oxigênio puro em profundidades maiores que 6 metros pode causar convulsões e conseqüente morte por afogamento. Em mergulhos até 40 metros de profundidade as misturas utilizadas normalmente são Nitrox, ou seja, misturas compostas por Oxigênio e Nitrogênio. A partir daí, por conta dos efeitos da Narcose pelo Nitrogênio, a mistura muda. Deixamos de usar o Nitrox para usar o Trimix que, nada mais é que uma mistura Nitrox com adição de gás Helio. O gás Helio tem propriedades diferentes do Nitrogênio reduzindo a sensação de Narcose. Utilizamos termos como “Narcose Equivalente” para dizer, por exemplo, que determinada mistura Trimix utilizada a 50 metros de profundidade tem o mesmo potencial narcótico que a utilização de ar comprimido a 30 metros. Existe também o Heliox, que é a mistura de Helio e Oxigênio, sem presença de nitrogênio na mistura. Entretanto, por conta do custo, ela só é utilizada no mergulho profundo profissional, como por exemplo, nas plataformas de petróleo. 5 – Descompressão A grande diferença entre o mergulho técnico e o mergulho recreacional é a chamada descompressão. O mergulhador recreacional deve sempre obedecer os limites não descompressivos das tabelas de mergulho. Os mergulhadores técnicos, por sua vez, utilizam-se de tabelas descompressivas para planejamento de seus mergulhos, sendo portanto habilitados a permanecer mais tempo em determinada profundidade e até mesmo ultrapassar a barreira dos 40 metros, obviamente pagando o preço por isso. E qual é esse preço? É a descompressão. Mas o que é isso? Quando mergulhamos, acumulamos nitrogênio em nossos tecidos por conta da pressão. Existe uma quantidade segura de saturação que é contemplada nas tabelas de mergulho recreacionais. Aquele tempo não é um “chute”, ele é baseado na saturação de nitrogênio em nosso organismo e por isso deve ser sempre respeitado. No mergulho técnico, ultrapassamos esse limite imposto pelas tabelas recreacionais, ou seja, o acúmulo de nitrogênio em nossos tecidos ultrapassa aquele limite que diz que você pode subir para a superfície quando bem entender. Ficamos mais tempo no fundo, mas a subida é lenta, demorada e cheia de paradas. Então, se ultrapassamos o limite não descompressivo por acúmulo de nitrogênio o que fazemos? Não podemos subir direto para a superfície por conta do nitrogênio dissolvido em nosso organismo então, fazemos diversas paradas na subida, a fim de eliminar o excesso e trazer a saturação de nitrogênio para níveis seguros. Isso é feito passo a passo, subindo lentamente e ficando parado por tempos pré determinados no planejamento, em profundidades cada vez menores. É comum no mergulho técnico que o tempo de descompressão seja maior que o tempo do mergulho em si. Ou seja, você vai ver um naufrágio a 50 metros de profundidade por 15 minutos e vai demorar uns 40 nos procedimentos descompressivos de subida, dependendo obviamente das misturas utilizadas. Aí é que entra o uso de misturas diferentes, a fim de acelerar os tempos das “paradas descompressivas”. Essas misturas são carregadas pelo mergulhador técnico nas “stages”, cilindros que vão presos ao mergulhador, além da “dupla”. Normalmente carrega-se 2 stages, uma com EAN50 para ser utilizada, na subida, a partir dos 21 metros e outra com oxigênio puro, para ser utilizado também na subida, a partir dos 6 metros. 6 – Afinal, o que é Mergulho Técnico? É uma especialidade fascinante, que abre novas possibilidades de mergulhos em locais que o mergulhador comum jamais poderia ir. É o mergulho descompressivo, onde a calma, paciência e um excelente controle de flutuabilidade fazem toda a diferença. É o mergulho planejado, calculado, memorizado, anotado e executado exatamente conforme o planejamento. É o mergulho de quem gosta de equipamentos, de ajustes, de detalhes. O mergulho técnico começa em casa, na checagem dos equipamentos. Enfim, é um mergulho completo, extremamente gratificante em todas suas etapas, mas que exige técnica e disciplina para ser considerado seguro. José (Zé Alpha) Proença
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