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Planeta Oceano em Curaçao! - Outubro 2008

Por Ricardo e Ed


Curaçao? Haja coração!

Nossa viagem pra Curaçao foi uma verdadeira colcha de retalhos – teve de tudo um pouco. A expectativa era grande, embora a previsão do tempo no site local não fosse muito animadora: tempestade de segunda a quinta e sexta chuvosa (nossa esperança era o fim de semana...).
Depois de uma viagem tranqüila, com conexão em Bogotá, no fim da tarde chegamos à tão esperada ilha. Desembarque, pré-check-in no aeroporto, ônibus e lá estávamos no Super Brezzes Resort, hospedados no sistema all-inclusive. O hotel era gigantesco – praia particular, três piscinas (uma com rede de vôlei), três restaurantes, academia, cassino, loja de suvenires, mesas de pingue-pongue e bilhar, tabuleiro de xadrez no chão (com peças de até meio metro de altura), viveiro de pássaros, bicicletas, caiaques, pequenos catamarãs, estrutura para aulas de trapézio, parede de escalada, bar dentro da piscina, discoteca, monitores e, claro, dive center. Tudo incluído.


Vista do hotel


Fomos dormir com a manhã seguinte já programada: mergulho de praia para checagem de lastro às 8 horas e saída no barco às 10. Contrariando a previsão, o dia amanheceu apenas nublado, com o sol caribenho se esforçando pra aparecer. Café-da-manhã farto e lá fomos nós. Equipamento novo, mar “novo”, amigos mergulhadores novos... Quer mais? Sim, a beleza subaquática do caribe. Logo de saída, a transparência da água impressionava. Descemos pra descobrir uma infinidade de corais moles e duros, esponjas de vários formatos e cores, moluscos e muitos peixes. Apesar disso, precisamos admitir que, em se tratando de quantidade de vida, esperávamos mais. Mas estava ótimo! Era o Caribe!

O pessoal da Ocean Encounters (a operadora local) foi muito simpático. Embarcamos rumos a dois mergulhos em naufrágios: Tugboat e Saba. Eram barcos pequenos, mas é sempre lindo ver aquela estrutura embaixo d’água sendo dominada pelas mais diversas formas de vida. A água estava em torno de 29 ºC, temperatura que se manteve em todos os mergulhos. A visibilidade era de 20 metros, ótima, mas ainda pequena para Curaçao. Dentre os peixes, o que mais nos chamou a atenção foi um tipo de donzela que não conhecíamos: azul-marinho com pintas lilases. Linda!
Na terça, nosso maior medo se concretizou: acordamos em plena tempestade – ou melhor, furacão mesmo. O Omar (15º furação do ano) estava passando ao norte da ilha, na direção de Porto Rico, bem longe, mas mesmo assim sentíamos sua força devastadora. Os ventos pareciam que iam arrastar tudo, o mar alagou a cidade, destruiu decks, abalou arrecifes artificiais construídos nas praias. O dive center, que ficava praticamente em cima d’água, quase foi invadido. A previsão era que o tempo melhoria apenas na sexta-feira. No meio da manhã o vento diminuiu um pouco, e o grupo resolveu pegar dois táxis e ir às compras nos shoppings.

Na quarta, a ventania e a chuva continuavam. Resolvemos então alugar duas vans e passar o dia conhecendo a ilha. Saímos na intenção de chegar à costa norte de Curaçao, que fica virada para o Caribe (o hotel ficava na costa sul, de frente para a Venezuela). Depois de muito rodar consultando mapas, quando estávamos quando conseguindo, os dois carros atolaram num solo arenoso enlameado. Uma das vans saiu fácil, mas a outra deu bastante trabalho – perdemos mais de meia hora nessa brincadeira, que resultou em mergulhadores sujos de lama, sapatos perdidos (e em seguida recuperados) no atoleiro, fotos de flagrantes engraçados e muitas risadas. Livres de novo, voltamos ao hotel para tomar banho e almoçar. À tarde, fomos ao centro fazer mais compras – que remédio? As casas coloridas eram lindas. O canal que dá entrada à baia principal, e que separa os dois maiores bairros da capital Willemstad – Punda e Otrobanda (sugestivos, não?) –, ainda estava bem cheio, quase transbordando. À noite, voltamos a Punda para jantar numa pizzaria com um deck à beira mar, mas ficamos com saudade das pizzas paulistanas. O que compensou foram as estrelas que despontavam no céu, anunciando uma quinta-feira de tempo bom.

Dito e feito: o dia amanheceu com nuvens esparsas e a costumeira brisa curaçalenha. Depois de algumas horas organizando a casa e avaliando as condições do mar, o pessoal do dive center nos chamou para retomarmos os mergulhos – eram 11 da manhã da quinta, e ainda tínhamos que fazer oito dos dez mergulhos incluídos no pacote até o sábado. Saímos em direção aos pontos Lost Anchor e Beacon Point. Devido aos dois dias de tempestade, as condições não eram as melhores – embora a temperatura da água estivesse ótima, a visibilidade girava em torno dos míseros 10 metros (baixíssima para o Caribe). O melhor desse dia foi uma moréia verde enorme, que deveria ter pelo menos uns 30 centímetros de diâmetro – como estava entocada, não deu pra ver o comprimento. À noite, fizemos o nosso primeiro noturno, na praia do hotel mesmo, ponto que recebe o nome de Brezzes Reef. Apesar da ainda pouca visibilidade, foi maravilhoso. O que mais nos chamou a atenção foi uma maria nagô de penacho (conhecido lá fora como tambor) com quase 30 centímetros, um baiacu de cerca de 1 metro e uma lula lilás de também 30 centímetros, linda.

Na sexta, estavam programados quatro mergulhos – dois pela manhã e dois à tarde. Os pontos eram Sandy´s Plateau, Divers Leap, Small Wall e The Corner. Todos muitos lindos, especialmente o último, com uma geografia peculiar. Foi lá que vimos pela primeira vez um camarão de anêmona, aquele magrinho de tudo, minúsculo, transparente e lilás. Fascinante! A visibilidade finalmente voltava ao normal, mantendo-se então nos 30 metros. O azul era maravilhoso. Preocupados com o acúmulo de nitrogênio, procuramos fazer mergulhos relativamente rasos, os da manhã na casa dos 16 metros e os da tarde, ao redor dos 12. Sem querer perder tempo, o pessoal propôs outro noturno na praia do hotel, e lá estávamos nós de novo, naquelas águas quentes e transparentes mesmo à noite. Esse mergulho se mostrou mais lindo que o anterior: vimos várias e grandes lagostas, uma moréia fora da toca e um baiacu de 40 centímetros que nadava na direção da luz das nossas lanternas, cada vez inchando mais. Presenciamos ainda algo inédito para nós: sabe aquelas minhocas que vêm se retorcendo feito loucas atraídas pela luz das lanternas? Então, quando colocávamos as lanternas próximas das anêmonas – que por sinal eram linhas –, as minhocas eram capturadas pelos tentáculos delas e se tornavam uma refeição fresquinha... Era muito legal!

No sábado, o tempo tinha melhorado consideravelmente, com sol entre nuvens. Saímos de manhã para os dois últimos mergulhos da temporada: Black Rock e Director’s Bay. No primeiro, encontramos uma lagosta como nunca antes tínhamos visto – contando as antenas, ela deveria ter cerca de 1 metro e meio. Era impressionante! Parecia um monstro das profundezas. Ela ficava parada ali, na entrada da toca, alerta, enquanto todos os mergulhadores se revezavam nas fotos, extasiados.

O segundo ponto foi o mais bonito de todos. Era um paredão vertical imenso e profundo, com cavernas e reentrâncias – uma geografia linda! Chegamos a descer aos 21 metros para ver uma caverna, mas logo subimos para uma média de 15 metros. Vimos mais camarões de anêmonas, e eu, Ricardo, até me queimei num coral de fogo. Nada preocupante, apenas incômodo.
Realmente fechamos com chave de ouro! Agora era curtir o resto do dia no hotel e preparar para a partida. No domingo de manhã, ainda fomos visitar o Seaquarium, o aquário local, onde pretendíamos nadar com os golfinhos. Infelizmente não havia mais horário, e tivemos que nos contentar em ver outras pessoas nos tanques naturais brincando com aqueles graciosos cetáceos. Este foi um dos programas que deixamos de fazer por causa do furacão. Além dele, perdemos também um mergulho num tanque em que é possível alimentar tubarões por meio de fendas em uma parede de vidro, um noturno embarcado no ponto Mushroom Forest, onde os corais coloridos se abrem e brilham à noite, e um naufrágio considerado o mais bonito da ilha: Superior Producer.

Finalmente era hora de ir embora. E, como não poderia deixar de ser, o sol apareceu com toda a força – até parecia Ubatuba ou Angra numa segunda-feira de manhã...
No aeroporto, as filas do check-in eram imensas. Eram 5 horas da tarde, e o calor judiava da gente. A princípio o vôo parecia tranqüilo, mas uma surpresa nos aguardava. Pouco antes de pousar em Bogotá, o capitão avisa que teríamos que “fazer hora” por 20 minutos, pois outra aeronave tinha pedido prioridade de pouso. O pior era que nossa conexão para São Paulo saía apenas uma hora depois da nossa chegada à capital colombiana. Depois dos 20 minutos, o capitão se pronunciou novamente, e dessa vez a notícia era mais séria: pousaríamos no aeroporto de Medellín, já que o de Bogotá estava fechado devido a uma emergência. Pronto, tínhamos perdido a conexão. Já em terra, fomos avisados que a aeronave seria reabastecida e logo decolaria rumo a seu destino original. Isso não deveria levar mais de meia hora, mas aconteceu que os passageiros em conexão para Medellín pediram, obviamente, para desembarcar, e suas bagagens tiveram que ser retiradas dos porões do avião. Ou seja, ficamos mais de uma hora presos lá. Já estávamos fazendo planos de conhecer a Bogotá, certos de que seríamos encaminhados a um hotel para passar a noite e pegaríamos o mesmo vôo do dia seguinte.

Pra nossa surpresa, quando pousamos na capital, fomos informados de que a outra aeronave estava à nossa espera. Saímos praticamente correndo, felizes por não ter que dormir lá.
Embarcamos e capotamos. De manhã, já em São Paulo, o de sempre: desembarque, malas, free shop, alfândega e despedidas. O grupo todo se abraçou, felizes por voltar dessa aventura que incluiu até furacão.

No dia seguinte, eu recebi um telefone da central Amex: meu cartão de crédito fora clonado no restaurante do aeroporto de Bogotá, onde almoçamos na ida, e o desgraçado do responsável pela proeza gastou mais de US$ 1.300 durante a semana. Pode? Faltava acontecer mais alguma coisa?

Como diz o nosso querido André, “vamos viajar e, se der, a gente mergulha”. Nesse caso, se não der, a gente pode ver um furacãozinho passar, atolar na lama, ficar preso num aeroporto da cidade onde existiu um dos maiores cartéis do mundo ou ter que cancelar cartões clonados...

 

Ed, Adrian e Ricardo em Curaçao
Ricardo com a camiseta do Grupo Planeta Oceano!


Ricardo e Ed nas águas azuis de Curaçao...


Ricardo e Ed no Dive Center de Curaçao...


Furação Omar passando ao norte da ilha...


Edmilson com a camiseta Planeta Oceano!

Mergulho....mas na lama....