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Oceano - O maior dos ecossistemas do Planeta  

Por Armando de Luca Jr
Instrutor IANTD #7065


Neste texto, achei oportuno fazer uma abordagem geral das características marcantes e que interferem diretamente na existência da vida naquele que é o maior e, para muitos como nós, o mais belo dos ambientes de nosso mundo : o oceano.

Aproximadamente 70% da superfície da Terra são cobertas pelos oceanos (Atlântico, Pacífico, Antártico, Ártico e Índico, mais os sistemas a eles relacionados), que têm como diferencial em relação aos outros ecossistemas, o fato de serem o mais “espesso” deles, pois atingem profundidades que podem exceder os 11 mil metros. Podemos fazer essa afirmação, pois nos oceanos não existem zonas abióticas (zonas em que não existe vida), já que as mais variadas formas de seres vivos são observadas desde as regiões costeiras até as maiores profundidades, em todas as latitudes.

A grande variedade de formas de vida também garante aos oceanos o título de campeão de biodiversidade. Para tal gama de variações de tipos e formas, os seres vivos contam com uma incrível criatividade da natureza em suas adaptações. Encontramos, por exemplo, algas com apêndices flutuadores, seres do plâncton (aqueles que vivem na coluna d’água com pouca ou nenhuma capacidade natatória – fitoplâncton os de origem vegetal e zooplâncton os de origem animal) que possuem espinhos ou gotículas de óleo para flutuar, peixes abissais luminescentes, minúsculos moluscos sem concha que exibem cores berrantes avisando que são indigestos e, assim, um sem número de criações fantásticas da natureza oceânica, garantindo a sua existência e sobrevivência.

As áreas do oceano com maior taxa de produtividade são aquelas próximas dos continentes, especialmente onde ocorre um fenômeno importantíssimo denominado ressurgência, que consiste no seguinte: correntes frias deslocam-se pelo fundo até regiões que apresentam ventos constantes e com uma direção predominante. Esses ventos deslocam as massas de água superficiais, permitindo que a água do fundo volte à superfície (ressurja). Quando a água fria vem à superfície, carrega consigo grande quantidade de nutrientes, permitindo a proliferação do fitoplâncton que é a base das cadeias alimentares marinhas. No Brasil temos uma ressurgência na região da Ilha do Cabo Frio, área sabidamente muito piscosa devido a isso. Mais importante em termos oceânicos é a ressurgência na costa oeste da América do Sul, na altura do Peru, onde o fenômeno é mais intenso e a região muito mais produtiva. Em relação às regiões profundas, a produtividade declina imensamente considerando-se pequenas áreas, mas no global também têm um fluxo energético bastante importante.

Como disse anteriormente, o fitoplâncton garante a base de muitas cadeias alimentares marinhas. Para sua existência, o fator luz é primordial. Assim, os mares podem ser divididos em regiões de acordo com a penetração de luz. É chamada de região fótica, aquela onde a luz penetra intensamente (até cerca de 80m em águas oceânicas, já que nas regiões costeiras a suspensão faz esse valor diminuir significativamente). Entre 80 e 200m de profundidade, temos a região disfótica, ou de penumbra, onde a luz penetra timidamente. Abaixo dos 200m fica a região afótica, onde nenhuma luz penetra. Essas características limitam o tipo de vida nessas regiões, já que onde existe luz existe fotossíntese e, conseqüentemente, habitam herbívoros, carnívoros e onívoros (estes últimos são aqueles que utilizam alimentos de origem animal e vegetal em sua dieta). Na região afótica habitam os carnívoros e os detritívoros (estes se especializaram em uma dieta à base dos cadáveres de outros seres que morreram e estão sendo levados ao fundo). Nessas regiões mais profundas também existe a necessidade de adaptações fisiológicas à grande pressão ambiente.

Além da luz e da pressão, fatores como marés, correntes marinhas, ondas, temperatura e salinidade, também interferem na vida dos oceanos. Vou procurar sucintamente explicar a ocorrência de cada um desses fatores.

As marés são provocadas pela ação conjunta das forças gravitacionais da Lua e do Sol sobre a massa de água. Quando temos Lua cheia e Lua nova, o alinhamento desses astros faz com que a somatória de suas forças gravitacionais provoque as maiores marés, chamadas de marés de sizígia. São marés de grande amplitude, ou seja, atingem os maiores valores tanto para a baixamar (maré baixa) quanto para a preamar (maré cheia), fazendo suas diferenças serem significativas. Quando temos Lua minguante e Lua crescente, ocorre uma diminuição na somatória das forças gravitacionais, tornando as marés com amplitudes menores, que são chamadas de marés de quadratura. A variação de altura na cheia e na baixa é pequena. Essas oscilações de maré expõem periodicamente uma série de organismos que vive na região conhecida como entremarés (aquela que fica entre a maior altura de preamar e a menor de baixamar), obrigando-os a se adaptarem a essas condições (por exemplo, as cracas e vários moluscos se fecham em suas conchas para manter a necessária umidade durante o período de exposição).

Correntes marinhas são massas de água que se deslocam e são classificadas em superficiais e de fundo. As superficiais são provocadas especialmente pelos ventos, enquanto que as de fundo podem ser devidas à presença de termoclinas, picnoclinas e haloclinas (camadas de água com diferenças de temperatura, densidade e salinidade respectivamente). Essas diferentes camadas de água não se misturam, como provavelmente o leitor mergulhador já deve ter testemunhado quando encontrou uma termoclina. As correntes de água transportam várias formas de seres vivos, larvas e ovos, garantindo sua dispersão pelos mares.

As ondas são principalmente causadas pelos ventos e dependem de sua direção e intensidade. Dependendo do período (intervalo entre uma onda e outra) as ondas são classificadas em “swell” (período acima de 12 segundos) ou “wind sea” (período inferior a 12 segundos). O “swell” é aquele mar com ondas grandes e bem espaçadas, enquanto que o “wind sea” é aquele mar agitado, encarneirado. A força e a constância do embate das ondas interfere, por exemplo, na distribuição dos organismos em costões rochosos. Para esclarecer uma pergunta freqüente, existem também as “tsunamis”, ondas gigantes provocadas por movimentos das placas tectônicas no assoalho dos oceanos. Esses movimentos liberam grande quantidade de energia em mares profundos (a mesma energia dos terremotos). A energia desloca-se e, quando a profundidade diminui, a onda cresce e arrebenta na região costeira (mais comum no Pacífico). A energia em deslocamento não transporta matéria, portanto, se não houver corrente, um corpo flutuando na água permanece no mesmo local após a passagem de uma onda (exceto na onda arrebentada, quando a água se desloca e empurra o que tiver pela frente).

A temperatura no oceano é relativamente constante por regiões, já que a grande massa de água apresenta uma propriedade, o calor específico, que garante uma conservação de temperatura significativa. Essas características também fazem do oceano um excepcional regulador climático, moderando os climas terrestres.

A alta salinidade é uma característica devida ao transporte de sais pelos cursos de água doce que desembocam no mar. Os sais que vão sendo gradativamente removidos das rochas por onde passam as águas são levados aos oceanos e lá permanecem, já que a evaporação não os retira do mar. Considerando-se uma escala de tempo geológica, o acúmulo resulta hoje em uma salinidade média de 35 0/ 00 (leia trinta e cinco partes por mil, que representa 35g da sais por litro de água). O principal sal, cerca de 27 0/ 00 , é o cloreto de sódio (sal de cozinha), mas também existem vários outros. Locais como o Mar Morto, onde o aporte de água doce é pequeno e a evaporação é grande, ficam com grande concentração salina e dificultam a existência de vida. De acordo com a adaptação à salinidade, os seres vivos são classificados em eurialinos (não suportam grandes variações e vivem principalmente no oceano aberto) e estenoalinos (suportam maiores variações e vivem nas zonas costeiras).

De uma forma geral esses fatores citados influem diretamente na distribuição da vida marinha e constituem muitas vezes verdadeiras barreiras para sua dispersão. Assim, seres que vivem em águas quentes não suportam águas frias, seres eurialinos não sobrevivem em águas de baixa salinidade, etc.

A grande gama de conhecimentos que envolve o estudo dos oceanos leva a uma ciência complexa e multidisciplinar que é a Oceanografia. O reconhecimento da importância do oceano para o homem e para o planeta, faz com que hoje essa seja uma ciência em franco desenvolvimento. Mesmo assim, e apesar do valor dos investimentos nas pesquisas oceanográficas ser relativamente baixo se comparado à pesquisa cosmológica, muito falta ainda se conhecer sobre os oceanos. A cada dia existem as possibilidades de se conhecer novas formas de vida, de se obter alimentos, de gerar energia, de extrair substâncias e, claro, de nos proporcionar maravilhosos momentos de reflexão e convívio com formas de vida inusitadas e belas. Com certeza, temos ainda a garantia de um bom tempo para se desvendar todos os mistérios e belezas que esse ecossistema tem a nos proporcionar e você pode fazer parte disso. Mergulhe e preserve.

Armando de Luca Junior
Instrutor IANTD #7065