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A prevenção de acidentes em operações de mergulho

Por Roberto Trindade
Instrutor Trainer PDIC # 10115
Instrutor Trainer IANTD # 6819


"No mar, não há grandes ou pequenos, todos os problemas são iguais, e se uns são mais perigosos, são sempre os mais banais. Aqueles que não chamam a atenção." Amir Klink

Um grande destaque vem sendo dado ao mergulho nesta última década. Esse interesse constante deve-se, de um lado, à valorização dos ecossistemas marinhos e à preocupação em conservar o mar como reserva da biosfera e, de outro, à intensa atração que esta atividade de lazer exerce sobre os indivíduos de todas as idades. Para essas pessoas, em um sentido mais imediato, o mergulho está diretamente relacionado com a obtenção de prazer e relaxamento das tensões, com a valorização da liberdade e da realização pessoal, enfim, com qualidade de vida. Atualmente milhões de mergulhadores praticam esta modalidade esportiva e a cada ano milhares de novos adeptos são certificados. Assim sendo, se processa em muitos países uma valorização com o fim de melhorar continuamente a segurança dessa atividade. A comunidade e a indústria do mergulho tem buscado constantemente o aperfeiçoamento não só de técnicas e equipamentos como também de novas metodologias educacionais, capazes de assegurarem a tão desejada diversão e o conforto adequados para todos aqueles que querem praticar a atividade.

Nesse sentido, standarts e procedimentos mínimos foram estabelecidos pelas diferentes agências certificadoras, garantindo uma razoável padronização na formação de mergulhadores altamente seguros através do desenvolvimento de habilidades específicas que deveriam ser treinadas continuamente.

Infelizmente, sabemos que muitos mergulhadores não se mantém ativos e mergulham esporadicamente sem tomarem consciência da gravidade de tal atitude. Além disso, temos notícia que ainda acontece de muitos mergulhadores serem certificados sem as condições mínimas de aquacidade e que entre estes, uma significativa parcela termina não se sentindo confortável o suficiente em águas abertas. Ocorre que, em pouco tempo, boa parte dos iniciados deixam o mergulho, perpetuando a alta taxa de evasão do mercado, ou, pior ainda, devido à sua pouca capacitação técnica, terminam por acidentar- se e daí passam a crer e a divulgar a idéia equivocada de que o mergulho é uma atividade difícil e de alto risco. Cabe aqui um alerta para as agências certificadoras que infelizmente tem facilitado a formação de instrutores e inserido no supersaturado mercado de trabalho indivíduos com pouquíssima capacitação técnica e nenhum conhecimento didático-pedagógico.

Apesar desses fatos, sabemos que uma das razões do crescimento do mergulho no mundo tem sido o trabalho digno de verdadeiros profissionais que realmente se preocupam com o nível de formação de seus alunos, afastando a idéia de que a atividade é difícil e altamente perigosa, favorecendo desta forma os altíssimos níveis de segurança conquistados pela modalidade.

Porém, ainda que raros, os acidentes podem acontecer e saber como proceder frente aos mesmos faz-se necessário. O conhecimento detalhado do tema é de grande importância para todos, mas entendemos que o mais importante é o conhecimento do mecanismo desses acidentes visando a proteção. A educação dos mergulhadores tem sido a estratégia mais usada, no que se refere a prevenção de acidentes.

Implícito nessa abordagem está a convicção de que a prevenção da lesão é, em grande parte, um problema de conhecimento e de responsabilidade pessoal. Em geral, a abordagem educativa é a primeira maneira escolhida para encorajar o público mergulhador a aceitar uma medida de eficácia comprovada. Os procedimentos para prática de um mergulho seguro são exemplos clássicos dessa estratégia. Vale lembrar que essa estratégia só funciona se o mergulhador tiver recebido treinamento adequado, o que infelizmente, nem sempre acontece. Nem sempre acontece porque, apesar de procedimentos como estes serem bastante populares e poderem atrair um grande número de instrutores e mergulhadores, nem sempre mostram-se eficazes para encorajar uma mudança contínua de comportamento. Existem mergulhadores que nunca as verão, porque seus instrutores nunca as viram. E infelizmente, entre aqueles que vêem ou ouvem a mensagem, há indivíduos que a rejeitam ativamente.

Todos nós conhecemos os Rambos Divers, os impulsivos, e os repletos de atitude anti-autoridade que desrespeitam as regras de segurança da modalidade. Embora muitos indivíduos que ouvem a mensagem a aceitem como verdadeira, alguns não são motivados o suficiente para modificarem seu comportamento. E uma parcela significativa dos que alteram seu comportamento terminam retornando a seus velhos hábitos com o passar do tempo. E finalmente, nem todos que adotam todas as estratégias livram-se da lesão.

Como resultado desses efeitos, o impacto de uma educação de mergulhadores na busca por uma redução na taxa de lesões é menor que o esperado. Pesquisas realizadas no exterior mostram que o grupo que tem maior chance de sofrer lesões graves, isto é, homens jovens, também é o grupo que oferece mais resistência à mudança de comportamento.

Entendemos que quando a aceitação voluntária de uma medida de eficácia comprovada é insuficiente, a complacência pode ser aumentada tornando a medida compulsória. A execução agressiva dessa estratégia obtém benefícios máximos das regras de segurança. Como praticar o controle de Lesão no Mergulho Esportivo?

1 - Defina o problema
O desenvolvimento de programas para controlar lesões não pode acontecer sem alguma compreensão da amplitude e do escopo do problema.

2 - Identifique causa e fatores de risco
Assim que um problema é definido como importante, é necessária uma pesquisa para identificar os fatores que aumentam ou reduzem os riscos da lesão. É fundamental determinar quem pode sofrer a lesão, que tipo de lesões estão envolvidas, onde podem ocorrer, quando podem ocorrer, o mais importante, o porquê. Esses dados podem oferecer indícios importantes para interromper o encadeamento de erros que irá resultar na lesão, e em geral, geram hipóteses que podem ser investigadas com métodos mais analíticos.

3 - Desenvolva e teste as intervenções
Assim que a amplitude do problema e seus fatores de risco associados são identificados, deve-se considerar em primeiro lugar as várias medidas de execução de uma profilaxia. Em segundo lugar, quando um problema for reconhecido, um plano de ação deve ser desenvolvido e implementado, e o problema será corrigido ou minimizado. Lembre-se que uma atenção cuidadosa deve ser dada à população alvo no sentido de prevenir acidentes, bem como a viabilidade das medidas de remediação e sua aceitação pela população de mergulhadores.

4 - Execute intervenções eficazes e avalie seu impacto.
É importante gerar evidências de que as medidas disponíveis funcionam. Uma avaliação por parte dos mergulhadores envolvidos na operação demonstrará o impacto contínuo. Sem planejamento e idéias cuidadosas, bons programas de prevenção são os primeiros a definhar e morrer.